50% das mulheres acima de 50 anos sofrem com a doença. Cirurgia robótica está entre os tratamentos indicados para a retirada do mioma.
É comum ouvir das mulheres a frase “estou com mioma”. Mas, que problema ginecológico é esse? Trata-se de um tumor, considerado não-cancerígeno, que pode apresentar dimensões variadas, indo desde o tamanho similar ao de um grão de feijão até ao de uma bola de basquete. Nos casos mais raros e severos, a mulher pode até aparentar uma “falsa gravidez”, por causa da dilatação do abdome.
De acordo com a ginecologista Dra. Rosa Maria Neme (CRM SP-87844), graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com doutorado em Medicina na área de Ginecologia pela Universidade de São Paulo e Diretora do Centro de Endometriose São Paulo, o mioma quando diagnosticado deve receber tratamento adequado, para que não influencie em outros aspectos da saúde da mulher.
Esse tipo de tumor, embora benigno, é um dos fatores que mais influencia nas cirurgias de retirada do útero, a histerectomia, que é um dos procedimentos mais comuns da área ginecológica e impossibilita gestações posteriores. Na entrevista a seguir, a ginecologista Dra. Rosa Maria Neme esclarece detalhes sobre como os miomas se desenvolvem e quais os tratamentos disponíveis para combater este problema que afeta a saúde feminina, e como a cirurgia robótica pode preservar a fertilidade.
Como se formam os miomas?
Quais os tratamentos disponíveis? Existe alguma forma de prevenção? -Os miomas são tumores benignos do útero. Normalmente existe uma tendência genética para seu aparecimento e são tumores dependentes de hormônio, sendo o principal deles o estrógeno, produzido pelos ovários. O tratamento dependerá da localização, tamanho e desejo reprodutivo da mulher. Em geral, não há como prevenir. Acredita-se, no entanto, que o uso de métodos contraceptivos hormonais possa diminuir a chance dos miomas aparecerem ou aumentarem de tamanho ao longo da vida da mulher.
Quais os tratamentos mais indicados para combater o mioma?
- Tudo dependerá do tamanho e localização do mioma. Mas, em geral, o tratamento é cirúrgico.
Há medicações que diminuem o tamanho do mioma e podem ser usadas antes dos métodos cirúrgicos para diminuir o nódulo e ajudar no procedimento, mas somente indicados para casos de miomas de grande volume em mulheres com desejo reprodutivo. Além destas medicações (que induzem a um estado semelhante a uma menopausa), outro tratamento é a embolização dos miomas, na qual um cateter é colocado até a artéria que irriga o mioma e é realizada uma embolização daquele vaso, ou seja, é interrompido o fluxo de sangue para o mioma e com isso há redução do tumor, evitando-se a cirurgia em alguns casos. No entanto, este tratamento é indicado, principalmente, para mulheres com contraindicações cirúrgicas ou que já tiveram filhos e não desejam mais procriar, já que existe um risco extremamente pequeno de haver necrose de todo útero com necessidade da retirada do mesmo.
Os miomas podem apresentar-se nos mais variados tamanhos, nas variadas localizações e acometendo mulheres de várias idades. Em quais casos é indicada a cirurgia robótica para o tratamento de mioma?
-A cirurgia robótica pode ser indicada nos miomas tanto subserosos - aqueles localizados fora do útero -, quanto para os miomas intramurais - localizados na parede do útero. A grande vantagem da cirurgia robótica nesses casos é que, com esta tecnologia, a visão tridimensional propicia uma cirurgia com menor sangramento, além de permitir que a sutura para o fechamento do útero, após a retirada dos miomas, seja mais coesa, já que os pontos cirúrgicos na robótica são mais fáceis de serem realizados. Isto acontece porque a manopla do robô permite que o cirurgião simule o movimento da mão com uma rotação de 360 graus, diferentemente da laparoscopia convencional, que oferece movimento de 180 graus. Além de apresentar esta dificuldade, o tempo cirúrgico na laparoscopia tende a ser bem maior.
Em quais casos é recomendado o procedimento cirúrgico?
- Em casos de miomas submucosos (dentro do útero), sempre se recomenda a retirada do mioma por histeroscopia (uma cirurgia na qual colocamos uma câmera de vídeo por dentro do útero, sem cortes externos). No caso dos demais miomas (intramurais e subserosos), a cirurgia estará reservada aos casos com muitos sintomas ou em miomas de grande volume.
Hoje, a aplicação da tecnologia robótica em casos ginecológicos tem se mostrado como uma alternativa excepcional. Vantagens, como a possibilidade de uma visão tridimensional da cavidade abdominal, melhor visibilidade da anatomia da pelve e menor sangramento intra-operatório, garantem uma melhor recuperação da paciente, um menor tempo de hospitalização e uma terapêutica mais efetiva da doença a ser tratada.
Existe uma estatística de quantas cirurgias robóticas são realizadas para o tratamento do mioma?
- Nos Estados Unidos, cerca de 60% das cirurgias para retirada do útero (seja por mioma ou outras causas) são realizadas pela técnica robótica. A maior parte das miomectomias também tem sido desempenhada por esta técnica. No Brasil, as cirurgias robóticas ainda são realizadas em poucos hospitais, mas temos obtido ótimos resultados. Quais os benefícios desta técnica cirúrgica tanto para o paciente como do ponto de vista médico?
-Para o paciente, a cirurgia robótica permite um menor tempo cirúrgico, uma melhor recuperação, uma vez que o sangramento, cortes e tempo anestésico são menores, há maior preservação da fertilidade nos casos de miomectomias, pois os planos cirúrgicos apresentam visibilidade significativa durante o procedimento. Para o médico, a visão é tridimensional, a ergonomia de poder operar sentado e conduzir, tanto a ótica cirúrgica (que permite a visão) quanto às pinças, sozinho.
Este método ajuda a reduzir a incidência de retirada total do útero?
-Não necessariamente. Mas, é importante que esta seja uma opção relevante em casos de mulheres com miomas e desejo reprodutivo, para evitar procedimentos de retirada de útero desnecessários.
A cirurgia robótica para retirada de mioma pode ser realizada também pelo acesso vaginal? Para qual tipo de mioma ela é indicada?
- A miomectomia é realizada por via vaginal, principalmente, nos casos de miomas chamados “paridos”, que se exteriorizam pelo colo do útero ou ainda nos casos de miomas submucosos, onde o procedimento de escolha é a histeroscopia, passagem de uma câmera dentro da cavidade uterina e retirada do mioma. No caso da cirurgia robotica, nao ha indicacao de ser realizada por via vaginal.
Perfil - Dra. Rosa Maria Neme (CRM SP-87844) - A Dra. Rosa Maria Neme é graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (1996) e doutorado em Medicina na área de Ginecologia pela Universidade de São Paulo (2004). Realizou residência-médica também na Universidade de São Paulo (2000). Além de dirigir o Centro de Endometriose São Paulo, ela integra a equipe médica do Hospital Israelita Albert Einstein.
O Centro de Endometriose São Paulo conta com serviços voltados à assistência global da saúde da mulher e valorização da beleza feminina. A iniciativa deste projeto pioneiro é da Dra. Rosa Maria Neme, que possui diversos trabalhos publicados sobre a endometriose e larga experiência no tratamento desta doença. Ela lidera uma equipe clínica formada por médicos e profissionais nas áreas de ginecologia, radiologia, cirurgia do aparelho digestivo, urologia, clínica geral, anestesia especializada no tratamento de dor, dermatologia, fisioterapia, nutrição e psicologia. | Equipe Prestigerp.